quinta-feira, 10 de abril de 2008

Gostava...


Gostava que a tua casa fosse o meu coração.
Se assim fosse, saberias sempre o caminho de volta, mesmo que o teu espírito nómada e fugidio te levasse para o Cambodja, o Vietname, o Cairo, as ilhas gregas e todos os lugares do mundo que queres tocar.
E eu tenho um coração enorme, sabias ?
Deve ser o equivalente a um T5 com um quarto em suite com closet e escritório, uma biblioteca imensa, sala de Verão, jardim e piscina, com espaço para os cães, a família e os amigos. 
Uma lareira sempre acesa e um frigorífico sempre cheio, muitos filmes à espera de noites sossegadas a olhar o mar que é onde encontro o teu olhar.
Gostava que a tua casa fosse o meu coração, como um botão que encontrou o seu lugar, porque a nossa casa é o único lugar do mundo onde podemos descansar, onde nos compreendem mesmo quando nós não nos conseguimos perceber.
Apetecia-me inundar a tua vida de sonhos, apetecia-me cobrir-te de livros, filmes e outros presentes que te enchessem de mim, mas controlei-me como pude, porque já aprendi que não podemos dar mais aos outros do que eles estão habituados a receber.
Como tudo me parece irónico, quase absurdo, filtrado pela luz do tempo!
E, no entanto, sinto que ainda tinha muito para te dar.
Tudo o que senti e guardei e que não é, nem poderá nunca ser, de outro amor, porque foi vivido contigo, por ti e para ti.
Lembro-me de pensar demasiadas vezes, mas talvez não as suficientes, que não te queria sufocar, nunca te quis sufocar.
Sabes como sou impetuosa, voluntariosa, impulsiva.
Sabes como luto pelo que sonho, como me dedico a tudo aquilo em que acredito.
E isso faz com que tenhas algum medo de mim.
Sou demasiado directa, demasiado óbvia, só aguento o jogo da sedução logo no início.
Depois canso-me e avanço sem estratégia.
Felizmente, tenho corpo e coração de mulher, tenho pele e sexo de mulher e o meu lado feminino que cresceu e se abriu como uma enorme flor.
Mas sou muito teimosa, não sei desistir nem quero aprender, e isso assusta-te.

Tu...


Tu sabes amar uma mulher.
És meigo, cuidadoso, envolvente, terno, e já te disse que dás os melhores beijos do mundo.
Mas os teus olhos são um mistério em estado líquido, tens o olhar cansado de quem cresceu depressa demais e ainda não sabe bem que terreno pisa, como se o mundo inteiro conspirasse para te ver errar.
Como te amo muito, consigo ver-te mais alto e mais forte do que alguma vez imaginaste ser e por isso, ao contrário de ti, nunca me passaria pela cabeça pôr-te à prova ou exigir-te o que quer que fosse.

Nós...


Na cama, quando a proximidade roçava os limites do possível, não estávamos só rodeados de prazer e de êxtase; os dois corpos juntos, com a mesma cor, o mesmo cheiro, a mesma pele colavam-se como duas folhas de papel molhadas e uniam-se deliciosamente, enquanto agarrávamos as mãos, a cabeça, as costas e as pernas um do outro.
Amor e sexo não são a mesma coisa e raramente se juntam na mesma cama, mas quando isso acontece, há uma alquimia secreta e indecifrável que a pele guarda religiosamente na sua memória e que as células não esquecem.
A imaginação é o mais forte dos sentidos.
Quando me deito, é nela que encontro toda a paz que me embala como se fosse uma criança e me faz dormir com a tua imagem, o teu cheiro e a tua pele sobre a minha.
Fecho os olhos e de repente estás ao meu lado, perfeito, poderoso, belo, terno.
Sinto o teu sangue a correr pelas minhas veias enquanto o meu corpo se enche do teu.
Sinto o peso das tuas pernas sobre as minhas ancas, enquanto seguro o teu peito com os meus braços e agarro a tua nuca e a tua cara como se fosses uma estátua grega.

Escrevo...

Afinal, porque te escrevo, quando sinto a cada dia que passa que não vais voltar ?
Escrevo porque ninguém ouve, mas quando estas palavras ganharem vida própria, sei que vão chegar a muitas pessoas e serão uma ponte para casais desavindos, amores perdidos mas nunca esquecidos, namorados que a vida separou mas que ainda se amam, amigos de costas viradas que se entenderão, homens e mulheres, homens e homens, mulheres e mulheres que se amam, mas que ainda não encontraram o mesmo caminho.
São as palavras que ficam por dizer que mais nos pesam, prisioneiras no nosso descontentamento, aos gritos dentro da nossa cabeça.
Preciso de as libertar, preciso de lavar a alma e limpar o coração, mesmo que para isso signifique pôr uma pedra em cima daquilo que mais amo e desejo.
E para me ver livre delas, revelo-me, porque já não tenho nada a perder.

Os dias...


Os dias continuam a correr devagar; às vezes sinto que te estou a esquecer, outros tenho a certeza que a ferida nunca vai fechar.
Às vezes penso que nunca mais serás uma pessoa próxima.
Outras vezes, sonho que um dia acordas e escolhes o teu caminho e que esse caminho é aqui, ao meu lado.
Os dias são passados a trabalhar, como sempre.
Depois deito-me na minha cama imensa onde me sinto perdida, com frio por dentro.
Podia deitar nela os homens que quisesse, mas não quero nenhum corpo estranho na minha vida, não quero ladrões nem intrusos, embora me sinta tão vazia que acho que se algum incauto se deitasse nela comigo não tinha nada para levar.

O Passado...


O passado também é um teatro de sombras e o caminho do bem não é o que nos prende ao que já não existe, mas o que nos deixa avançar, ainda que a luz nos cegue.
Estou cego de tanto ver, cantou Vinicius.
Também me sinto assim, assistindo aos meus erros e falhas como se fosse uma segunda pessoa e vivesse fora da minha pele, porque só assim consigo olhar para o que se passou entre nós.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Mais ninguém...


Existem outros homens à espera de entrar na minha vida.
Nenhum me interessa.
Ouço-os falar e lembro-me da tua voz.
Observo as mãos deles e são as tuas que vejo.
Todos os olhos que me tentam prender se perdem no meu vazio, porque em nenhum vejo os teus olhos.
São homens que nem sequer têm sentimentos profundos por mim, apenas querem um bocado do meu tempo ou da minha carne.
O desejo é tão evidente na natureza masculina como o amor o é na natureza feminina.
Primeiro, eles desejam-nos como presas e troféus.
E só depois, muito raramente, se apaixonam por nós.
Nós só os desejamos se já os amamos.

Saudades...


Tenho muitas saudades tuas.
E saudades do tempo em que confiávamos um no outro e sentíamos que estávamos no mesmo barco, porque mesmo longe, queríamos ajudar, proteger e apoiar o outro em tudo, de uma forma incondicional e total, queríamos amar-nos e dar-nos um ao outro.
Mas tenho ainda mais saudades de me sentir cheia de amor por ti.
Será que não amamos os outros pelo que são, mas por tudo o que nos fazem sentir ?
Sempre quis ser a pessoa que fui quando estava contigo, tu sabias, sem saber, exaltar o meu lado melhor, mais profundo, mais elevado, mais optimista.
Sentia-me bela, segura, serena e perfeita a teu lado.
Sentia-me completa, e é na plenitude que se pode encontrar a felicidade.

Nova realidade...


Nunca vemos o amor chegar; só o vemos a ir-se embora.
Estou numa estação de comboios, sentada num banco de pau, completamente só.
Perdi o teu comboio e não quero apanhar nenhum outro.
Está frio.
Um vento seco e cortante faz com que me encolha como um bicho de conta.
Já não há sonho, já não há dádiva, os dias voltaram a ser cinzentos e tristes.
Agora são todos iguais, sempre iguais.
Trabalho, respiro, durmo e como o melhor que posso e sei, e tento esquecer-te.
Deixei de falar de ti e de dizer o teu nome, deixei de o desenhar no espelho da casa de banho, quando o vapor inunda todas as superfícies.
Em vez disso, tenho o coração embaciado de dúvidas e o olhar desfocado pelo absurdo do teu silêncio continuado, o olhar de quem aprende a adaptar-se a uma luz desconhecida, a uma nova realidade.

Sempre...


A tua caverna é uma espiral e tenho a certeza que o nosso amor te deu alento para saíres dela.
Mas estavas no centro, tens por isso muitas voltas a percorrer e tens de as percorrer sozinho.
Já te dei pistas e te mostrei caminhos, nada mais posso fazer agora.
Outras mulheres, mais orgulhosas, teriam fechado o seu coração para sempre, mas eu não sou assim.
De que me serve o orgulho se não me aquece o coração ?
Talvez me aches fraca, mas só os mais fortes têm coragem de revelar as suas fraquezas.
É quando já não esperamos nada das pessoas que elas morrem no nosso coração e eu espero por ti ainda e sempre o melhor.
Sempre, sempre.

Tempo...


O que quero da vida, afinal, são coisas muito simples; paz, tranquilidade, amigos, tempo para aqueles que amo, uma casa com sol e o coração cheio.
E quero acreditar que um dia o amor vai de novo bater à minha porta, um amor talvez menos profundo e mais fácil, sem um cavalo branco, mas igualmente puro e belo, como foi o nosso.
Se quiseres fazer parte da minha vida, se quiseres ser tu esse amor feliz e real, talvez ainda vás a tempo.
Penélope ouviu os passos de Ulisses quando ele regressou, cansado de ser herói, mais ainda com vontade de ser marido.
Talvez também consiga ouvir os teus passos cansados, se decidires que esta é a tua casa e me bateres à porta com o teu sorriso triste.

O Nosso Amor...


Pensei que iria viver contigo até ao fim da minha vida.
Foi um amor tranquilo, construído com paciência, dedicação e verdade.
Fui muito feliz durante esse tempo.
Cada dia era um monumento à paz e à harmonia e posso dizer-te sem qualquer pudor que era um amor feito só de amor e cheio dele.
Há poucas relações assim.
As pessoas ficam juntas pelas razões erradas; para esquecer outras pessoas, para mudar de vida, porque acham que chegou a altura de fazer o que todos esperam que se faça; casar e ter filhos.
Raramente ficam juntas de uma forma livre e totalmente sincera.
Raramente se unem de uma forma pura e verdadeira, por amor.

Esperar...


Espero por ti porque acho que podes ser o homem da minha vida.
E espero por ti porque sei esperar, porque nos genes ou na aprendizagem da sabedoria mais íntima e preciosa, há uma voz firme e incessante que me pede para esperar por ti.
E eu gosto de ouvir essa voz a embalar-me de noite antes de, tantas e tantas vezes, te encontrar nos meus sonhos, e a acalentar-me de manhã, quando um novo dia chega e me faz pensar o quão longa e inglória pode ser a minha espera.
Afinal, porque espero por ti com tanta fé ?

terça-feira, 8 de abril de 2008

Quando Se Ama...


Quando se ama alguém, tem-se sempre tempo para essa pessoa.
E se ela não vem ter connosco, nós esperamos.
O verbo esperar torna-se tão imperativo como o verbo respirar.
A vida transforma-se numa estação de comboios e o vento anuncia-nos a chegada antes do alcance do olhar.
O amor na espera ensina-nos a ver o futuro, a desejá-lo, a organizar tudo para que ele seja possível.
É mais fácil esperar do que desistir.
É mais fácil desejar do que esquecer.
É mais fácil sonhar do que perder.
E para quem vive a sonhar, é muito mais fácil viver.